segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PAU ROXO

 

PAU ROXO


                               José Francisco Colaço Guerreiro

 
Ao redor de Castro , em lugares  definidos por razões ocultas, erguem-se capelas, igrejinhas que resistem há muitos séculos ao esmeril do tempo e ao esquecimento dos devotos que as  ergueram e branqueavam de cal pelo menos uma vez em cada ano, por ocasião da festa do patrono respectivo.

A escolha do sítio onde foram implantadas resulta ,na maioria dos casos, da preexistência no mesmo lugar de altares ou simples práticas de culto a divindades que os povos de antanho reconheciam  como suas protectoras, antes  da vinda e acampamento dos cristianos.

Assim  foi em S. Pedro das Cabeças, assim terá também sido em S.Martinho e quem sabe se o não foi igualmente em S. Sebastião,aqui à saída da vila, quando se toma a antiga estrada dos Geraldos, direito ao olival.

Certo é que em 1510,segundo as crónicas, esta ultima capela, feita de pedra e barro e com altar  de taipa,  coberta por telha vã e habitada por um só santo esculpido em pau, estavam já, ela e o morador a ceder ao peso dos anos, mostrando sinais evidentes da  antiguidade de ambos.

Em cada vinte de Janeiro, lá acorria toda a vizinhança deste lugar para rezas e  pagamento de promessas anuais feitas ao santo mártir. Fitas, azeite e depois velas de muitos tamanhos e feitios, lá ficavam em acção de graças pelos benefícios vindos através das suplicas . Muitos fregueses, fazem freguesia e a freguesia encanta os comerciantes que à margem da fé, mas aproveitando-se dela, lá iam também para armar a esparrela .

Deste jeito ou doutro idêntico , nasceu naquele lugar um arraial, um mercado, uma feira.

Lugar de fé e de venda.

Arredia da vila, a meia ladeira de um cerro, em sítio descampado como também convinha para o maior negócio que ali se fazia.

Porcos aos milhares, gordos com a bolota de todos os montados das redondezas, para ali convergiam e aguardavam que os negociantes os comprassem às varas.

Ao redor do santo estendia-se um mar de lombos pretos, deitados, arriados   pelo peso das arrobas de carne postas na engorda e pelo cansaço das léguas andadas no caminho. No ar , misturava-se um cheiro intenso com  um  grunhido  ensurdecedor. Os porcariços andavam numa fona, despejando gorpelhas de palha e saquilhadas de cevada no chão. Depois corriam com os caldeirões para as bicas para encherem os maceirões de água que não aturavam .

È tempo de matança e também a gente das redondezas mais desafogada  vinha ao santo comprar o que no chiqueiro não tinha. Depois lá iam a caminho de casa atrás de um porco ,seguro por uma  corda laçada na pata.

Mas nesta ocasião, é tempo de plantio de arvoredo. Tudo o que numa horta convém ter, aqui ainda se encontra. Também para os quintais ,as laranjeiras e os limoeiros é sempre bom ter. Para dispor nas leiras, braçados de cebolinho .Para a vinha ou para pôr num alegrete, vende-se o bacelo de qualidade.

Nesta ocasião, vendiam-se calendários, almanaques, bordas d´água e pagelas com décimas feitas a propósito da ultima desgraça ou de alguma marotice intemporal.

À abrigada da igrejinha, estendiam-se toldos onde várias carroças serviam de venda e despejavam garrafões e garrafões do novo. Depois à  vinda, ao levantar da feira, desfilavam bebedeiras de ladeira a baixo, homens sem negócio que iam de gangão e algibeiras vazias.

Mas neste dia come-se pau roxo.

Vende-se aqui e no Santo Amaro em Almodovar, não vi noutra banda.

Cenouras grandes e tintas como a beterraba. Eram aos montes ,agora são contrabando, mas mesmo assim, a feira ainda é delas.

Compra-se uma ou duas, por graça. Os moços já não gostam e os mais velhos não têm dentes que as rilhem. Nesta maré era o petisco corrente nas tabernas. Em casa comiam-se cruas, às rodelas, com o mesmo jeito dos rábanos e havia quem as cozesse e temperasse com vinagre. Guardavam-se também para  o tarde em frasquinhos como os picles.

 O "santo", "feira de S.Sebastião" ou "feira do pau roxo" porque antecede o Entrudo, faz em Castro a abertura desta quadra.

A moçada aproveitava para fazer o abastecimento de estalinhos, bombas, bichaninhas, pedorreiras, serpentinas e papelinhos.

Compravam-se bisnagas de água e com as bicas mesmo ali à mão, mesmo que não chovesse, voltavam da feira como pintos.

De casa muitas vezes já se traziam bexigas de porco ,sopradas e atadas com linha de meia.Com um alfinete na ponta, penduravam-se à socapa nas costas dos passantes. Eram os "rabos".Também se faziam de papel recortado. E punham-se escritos da mesma maneira   Tinha graça. Toda a gente ria.

Embora sem porcos, sem tanta promessa nem tanto pau roxo, o" santo" ainda é hoje um mercado de tradição onde lado a lado com a venda de cassetes se compram chocalhos e coleiras para o gado ,vendem-se farturas mas também se encontra o que faz falta para plantar na horta.

 20/1/03

 


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

UMA RELÍQUIA

 
Esta velha fotografia de grupo foi tirada há mais de 50 anos e reúne os vendedores do antigo mercado, alguns ainda nossos conhecidos 

CASTRO

 
Anos 70. Ainda sem rotunda nem ovelhas

ANOS 70

 No Largo das camionetas

ALFAIAS

Exposição montada pela "Castra Castrorum" no jardim do Padrão em Junho de 1983

HÁ 30 ANOS

 Em Junho de 1983 organizámos, no âmbito das atividades da "Castra Castrorum" , uma exposição fotográfica subordinada ao tema " Castro Verde antigo"
Reproduzimos imagens de alguns visitantes que nos visitaram no dia da inauguração da exposição